Ogum Xoroquê

Ogum Xoroquê sem dúvidas é dentro do Povo de Ogum a entidade que mais chama atenção, por ser dúbia, ter dois lados, um lado ser Ogum e do outro ser Exu. Esta forma quer dizer não que o orixá tem duas faces e sim que trabalha em dois pólos energéticos tanto positivo como negativo.
Segundo a tradição afro-brasileira, Ogum foi o segundo filho de Yemanjá e Oxalá, devido a isso, ligou-se por uma grande amizade ao irmão mais velho, Exú, que lhe era mais próximo do que os demais irmãos. Aventureiros, os dois andavam sempre juntos. Seus interesses e habilidades eram muito semelhantes: donos das estradas do mundo, enquanto Exú dominava as encruzilhadas, Ogum mandava nas retas dos caminhos. O desbravamento de novos espaços, a abertura de passagens e a luta contra os inimigos constituíam sua vida. Talvez essa grande união e afinidade explique a existência de uma entidade que reúne as características dos dois Orixás: Exú-Ogum, segundo Nina Rodrigues (citado por Câmara Cascudo e por Roger Bastide), seria o nome dado pelos iorubas ao Orixá do ferro (Ogum) sob sua forma de Deus da guerra, ou ao Exú de ferro, uma das duas modalidades gerais de Exú (a outra é Exú da terra), que simboliza os ossos (os minérios), o esqueleto do corpo da terra.
Divindade masculina figura que se repete em todas as formas mais conhecidas da mitologia universal. Ogum é o arquétipo do guerreiro. Bastante cultuado no Brasil, especialmente por ser associado à luta, à conquista, é a figura do astral que, depois de Exu, está mais próxima dos seres humanos. Foi uma das primeiras figuras do candomblé incorporada por outros cultos, notadamente pela Umbanda, onde é muito popular.
Tem sincretismo com São Jorge ou com Santo Antônio, tradicionais guerreiros dos mitos católicos, também lutadores, destemidos e cheios de iniciativa.
Tem, junto com Exu, posição de destaque logo no início de um ritual. Tal como Exu, Ogum também gosta de vir à frente. A força de Ogum está tanto na coragem de se lançar à luta como na objetividade que o domina nesses momentos.
Essa fusão parece não existir somente no Brasil: Câmara Cascudo também cita o pesquisador Fernando Ortiz, que descreve a existência de uma combinação semelhante, encontrada eventualmente na Santeira de Cuba.
De acordo com Fernandes Portugal, Ogum Xoroquê é um Ogum com fundamento em Exú. Já Xogum, segundo o mesmo autor, é um tipo de Ogum que se torna Exu durante seis meses. O fato de ter fundamento em Exú, significa que esse Ogum tem um componente mágico, podendo realizar feitiços.
De acordo com Olga Cacciatore, Ogum Xoroquê também chamado de Xogum (Exú de Oum), é um Ogum feroz e briguento, tão bravio que termina por torna-se um Exú. É por isso que ele tem tanta presteza em procurar resolver as demandas de seus filhos de fé, assumindo suas brigas e quizilas.
O próprio nome da entidade reflete essa característica: em ioruba, xoro + ké significa gritar ferozmente ou cortar cruelmente. Ainda segundo Cacciatore, Xoroquê é o nome dado a essa entidade, quando ela se manifesta sob a forma de Exú.
Como todos os exús da Umbanda, ele é mais um servo do Orixá que um Orixá propriamente dito; desta forma, esta entidade seria um Exú subordinado a Ogum Xoroquê (como indica o nome Xoroquê , que significa em ioruba guarda de Xoroquê).
No Candomblé da Nação de Angola, esta entidade é um Boiadeiro. Chama-se Caboclo Xoroquê – metade caboclo, metade Exú – característica que o torna mais arrojado que os demais Caboclos no momento de resolver os casos que lhe são entregues.
É fácil, nesse sentido, entender a popularidade de Ogum: em primeiro lugar, o negro reprimido, longe de sua terra, de seu papel social tradicional, não tinha mais ninguém para apelar, senão para os dois deuses que efetivamente o defendiam: Exu (a magia) e Ogum (a guerra); segundo Pierre Verger. Em segundo lugar, além da ajuda que pode prestar em qualquer luta, Ogum é o representante no panteão africano não só do conquistador mas também do trabalhador manual, do operário que transforma a matéria-prima em produto acabado: ele é a própria apologia do ofício, do conhecimento de qualquer tecnologia com algum objetivo produtivo, do trabalhador, em geral, na sua luta contra as matérias inertes a serem modificadas .
Ogum gosta do preto no branco, dos assuntos definidos em rápidas palavras, de falar diretamente a verdade sem ter de preocupar-se em adaptar seu discurso para cada pessoa.
Patacori Ogum! Ogunhê!
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