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Ewó – Os Interditos na Religião dos Òrìsàs
“Minha Ìyálòrìsà me disse que eu não podia comer Cajá, eu comi e não me fez mal algum, esse negócio de Ewó é conversa fiada”!
Talvez pela falta de informação ou conhecimento acerca da cultura dos Òrìsàs, muitas pessoas pensam dessa forma, ou seja, se comeu e não sentiu nada, não tem problema nenhum, pois não é Ewó, será que é isso mesmo?
Antes de tudo é preciso entender o que são os Ewó. Na religião dos Òrìsàs, acreditamos que ao longo da vida, todos os seres e Divindades passaram por momentos de alegria, felicidades, dificuldades, decepções, etc. Nessa ótica, aquilo que motivou ou desencadeou, por exemplo, um processo de decepção, tornou-se um interdito para aquele ser/Divindade.
Há alguns meses foi publicado no site “Casa de Oxumaré”publicamos (de onde retiramos esta matéria), a razão de Ògún usar màrìwò. À época foi publicado que quando ele entrou mata adentro, envergonhado por ter matado o cachorro guardião do mercado da riqueza, suas roupas foram completamente rasgadas pela ação de uma determinada planta espinhosa, fazendo com que ele, envergonhado por estar nu, se vestisse completamente com màrìwò (Ogun Kolaso, Mariwo Aso Ogun-o Mariwo). A partir desse dia, o màrìwò tornou-se sagrado para Ògún, no entanto, a planta que rasgou suas roupas, passou a ser o seu Ewó. Caso um filho de Ògún venha a usar essa planta (por exemplo, um banho), provavelmente naquele momento ele não sentirá nada, mas ele despertará em Ògún, a lembrança daquele momento de vergonha, o que lhe pode ser prejudicial futuramente.
Esse é somente um exemplo, para ilustrar, mas existem centenas de histórias que justificam todos os Ewós do Candomblé. Talvez a mais conhecida, seja a de Òsàlá, que deixou de criar o mundo, pois bebeu o Emú (vinho de palma), tornando essa bebida um terrível Ewó desse grande Òrìsà. Há, também, a história que justifica o Ewó do mesmo Òsàlá com o Epó Pupá, quando Èsù de forma maliciosa sujou sua impecável roupa branca com o dendê (Epo Made So Alá).
Interessante observar que, muito embora o Epó Pupá e o Emú sejam Ewó de Òsàlá, ambos são apreciados por Ògún, o que nos mostra que, nem sempre o interdito para uma pessoa, será para outra. Muito embora, existam casos em que o Ewó é comum para todas as pessoas do Candomblé, como o caso da “Aranhola”, conforme já mencionado em postagens antecedentes.
Muitas pessoas comentam sobre os interditos alimentares, no entanto, existem muitas proibições que variam desde não poder usar roupas remendadas até não poder tomar banho de uma determinada folha ou conjunto de folhas. Esses Ewós são determinados em razão do Òrìsà da pessoa, bem como, o seu destino (Odù), identificado por meio de consulta ao oráculo.
Conforme início do texto, muitas pessoas acreditam que “se comeu e não sentiu nada, não é Ewó”. Mas, em verdade, as proibições não estão somente relacionadas a uma indisposição alimentar. A quebra do Ewó, invariavelmente implicará em prejuízos futuros, como uma possível cólera do seu santo, em razão do não cumprimento do interdito.
Quando um Sacerdote diz ao filho: “Meu filho, não coma abóbora”. Ele não está querendo lhe privar de algo que até você ser iniciado sempre lhe fez bem. Ele somente está lhe dando informações preciosas que contribuirá no futuro, para a sua edificação espiritual. O mesmo ocorre quando a Ìyálòrìsà diz: “meu filho, não coma Cajá e não use roupa vermelha”. Ela não quer lhe privar de um refresco saboroso ou da cor da moda. Ela somente quer o seu bem!
http://omidewa.com.br/public_html/arquivos/806
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