PARÁBOLA DO OBÍ

Contam os nagôs ìgbómìna em solo brasileiro, que, após o cataclismo que separou a Terra (Àiyé) do Infinito (Sànmá), os habitantes do planeta Terra (ará-àiyé) não mediram esforços para aplacar a ira do Criador. Inúmeros preceitos e várias oferendas foram realizados em prol da obtenção do perdão do Senhor do Universo.
A remissão da pena era de suma importância, pois todo o contato com o Cosmo havia se perdido. Tantas foram as oferendas e súplicas que Olódùmarè apiedou-se e concedeu aos habitantes da terra um indulto pela falta cometida, permitindo o nascimento de um profeta. O mesmo ao nascer deveria chamar-se ‘Obí’.
Este ser predestinado não poderia discriminar as pessoas, tampouco recusar o atendimento às mesmas, sob pena de perder seus poderes. A palavra de Olódùmarè se cumpriu. Nove meses depois, nasceu o menino que recebeu o nome de ‘Obí’.
Os anos se passaram. Com o decorrer dos mesmos, ‘Obí’ tornou-se um homem famoso nos lugares mais longínquos do mundo. Infelizmente, não levou muito tempo para que a fama subisse à cabeça do jovem. Quando o mesmo se encontrou no auge da notoriedade, passou a ser indiferente e a menosprezar as pessoas mais carentes, chegando ao ponto de negar-lhes atendimento nos momentos mais difíceis de suas vidas.
Estes fatos não passaram por despercebidos ante os olhos de Èsù Alábojotu (Supervisor dos atos dos seres humanos), que tratou imediatamente de relatar ao Criador Excelso o procedimento do jovem ‘Obí’. Indignado com os fatos, Olódùmarè materializou-se e foi ter com ‘Obí’ por três vezes consecutivas. A primeira disfarçado de rico, a segunda passando-se por uma pessoa desprovida de recursos financeiros no momento do seu desespero e, por último, vestindo-se de mendigo.
Contudo, para seu infortúnio, as informações de Èsù Alábojotu eram verdadeiras. Não querendo crer no que seus olhos haviam presenciado Olódùmarè, fingindo-se de mendigo, retorna à porta do vidente ‘Obí’, suplicando atendimento. Mais uma vez, sem nada desconfiar, o profeta recusa o atendimento e expulsa o mendigo da sua casa, batendo com a porta na face do indigente.
Neste exato momento, o jovem ‘Obí’ ouve alguém chamá-lo à porta. Reconhecendo a voz de Olódùmarè – O Criador do Universo, corre rapidamente para abri-la. Quando a abre, depara com o mendigo que há poucos minutos havia negado o atendimento e expulsado da sua casa.
‘Obí’, ao perceber que o mendigo era seu Criador disfarçado, prostra-se aos pés do mesmo suplicando perdão. Irredutível, Olódùmarè se pronuncia: ‘Obí, tua missão na Terra como profeta está encerrada. Voltarás ao pó de onde vieste. No lugar em que fores enterrado, nascerá uma árvore que terá o teu nome, darás flores e frutos. “Eternamente tuas sementes cairão do alto dos teus galhos sobre o chão e, rolando pela terra, servirão de interpretação entre o profano e o sagrado’”

E assim, o ‘obí’ passou a servir de intérprete entre o profano e o sagrado, tornando-se desta maneira o 1º Oráculo dos habitantes da Terra.
Bibliografia: PENNA, Antonio dos Santos, Mérìndilogun Kawrí – Os Dezesseis Búzios. Páginas 57 e 58 – Produção Independente: RJ, 2001 – Ano 2009. Edição Revista e Ampliada. – ISBN 978-85-902226-4-4.
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